Caminhantes, errantes, andarilhos

Uma modalidade da clínica não exercida em consultórios.

Existe uma modalidade da clínica que é não exercida em um consultório. Está a céu aberto em shopping’s, bares, restaurantes, escolas, igrejas; passeando pelos parques públicos, tomando sorvete numa padaria, assistindo a espetáculos teatrais, sacudindo o corpo numa apresentação musical dançante ou num bloco de carnaval. É bem possível que você já tenha encontrado uma dupla curiosa num destes espaços da cidade. Possível que sua atenção tenha transportado sua imaginação para configurar aquela cena inusitada, onde um adulto e uma criança “expondo-se” sem modos, sem limites, lhe sugira o pensamento “esse pai não dá limite a esse menino, ah se fosse comigo…”. Ou, possível que você, na fila do pão numa padaria, ficasse impaciente ao notar uma dupla demorando demasiadamente para fazer o pedido, pensasse: “por que aquele homem, que parece ter menos dificuldade pra falar que aquele outro que visivelmente tem muita dificuldade para falar, não faz ele mesmo o pedido pelos dois?”.

Mais: pode ser que você observe um idoso e um sujeito bem mais jovem, que não aparente em nada um enfermeiro ou cuidador de idosos, sentados num bando de praça conversando sobre guerras e revoluções pelas quais o mais velho da dupla tenha passado, e pense “que neto atencioso! deve ser de criação, pois são fisicamente diferentes…ainda assim, que cena bonita!”. Pode ser que nessas cenas o que você esteja vendo não sejam relações familiares. Pode ser que você esteja vendo uma pessoa com o seu psicanalista, na posição de acompanhante terapêutico. Às vezes à volta com dragões; às vezes, com simples com moinhos de vento. Caminhantes, errantes, andarilhos.

Ricardo Rodolfo Rezende Prado

Ricardo Rodolfo Rezende Prado

Psicanalista e Filósofo

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