As Crianças de Asperger (2019), de Edith Sheffer, é um livro perturbador. Não apenas por mostrar as vinculação do Dr. Asperger ao Nazismo ou a origem das ideias que permitiram criar o diagnóstico que leva o seu nome; mas, sobretudo, pela ideia da autora de que o regime nazista foi, antes de tudo, mais que um regime racial, um regime DIAGNÓSTICO feito para separar e classificar pessoas em identidades coletivas, como gênero, raça, religião, traços comportamentais passíveis de serem rotulados como doença ou transtorno, útil ou inútil para a identidade política coletiva pretendida pelo Reich. Ou seja, no regime nazista, o procedimento diagnóstico orientava todas as práticas sociais, incluindo aí a produção do conhecimento – da medicina à psicologia, da sociologia à logística – e a organização social. O que me assusta mesmo é consequência dessa ideia: não se trataria de algo acontecido num passado distante, pois ainda continuamos catalogando e rotulando pessoas. O que não está claro, no entanto para mim, nos dias de hoje, é a quem ou a quê serve o procedimento diagnóstico, qual a roda que ele mantém girando.