Como, numa instituição empresarial moderna, não se implantar fluxos, processos, lógicas e racionalidades sem se condenar à ineficiência e à, no limite, falência? Por outro lado, há a angústia de sentir que, com a implantação de fluxos, processos, lógicas e racionalidades, o que se está fazendo do outro, e de si mesmo, é o mesmo que se faz com objetos: manipular, usar e descartar. Fazer do outro e de si mesmo estatística sem nome, rosto ou história – numa palavra, des-humanizar o outro (e a si mesmo). Na experiência que tenho, um dos sonhos dourados dos líderes nas empresas é encontrar um “programa” mágico, um app “bala de prata” que acerte tiro único e certeiro, que possa decidir, por exemplo, a demissão de alguém por critérios que escapem da pessoalidade, seja para demissão seja para manutenção do funcionário/colaborador – expectativa de não deixar dúvida sobre a decisão e, com o apagamento da dúvida, não ter que se haver com noites insones a se pensar nas dificuldades do demitido ou ter que se esconder por trás da máscara do cínico. Ninguém quer se ver com o dilema do Pequeno Príncipe: és responsável pela flor que cativas. Há uma frase dita pela filósofa Hannah Arendt, bastante citada pouco compreendida: Banalidade do Mal. A frase foi dita na ocasião do julgamento dos crimes de guerra praticados pelo nazista Adolf Eichmann e se refere aos procedimentos “banais” em que os crimes de extermínio contra milhões de judeus foram praticados durante a Segunda Guerra Mundial. Banalidade, no contexto, significa apenas que fluxos, processos, lógicas e racionalidades foram implantadas e executadas para melhorar a eficiência e a economia de recursos empregadas na localização dos judeus, transporte, implantação do trabalho escravo e, sobretudo, nas execuções. A implantação de fluxos, processos, lógicas e racionalidades são cruciais para eficiência empresarial, porém, saber disso, não elimina, não fecha, não obtura, não embota nem moral nem afetivamente aqueles líderes que precisam fazer a “roda girar” da melhor maneira possível. O apoio e o suporte emocional para a execução de fluxos, processos, lógicas e racionalidades é questão, mais que da tão falada saúde mental nas empresas – que sempre correm o risco de serem assaltadas por propostas superficiais – é condição para o exercício digno da tarefa, o que, por sua vez, é condição para própria implantação e execução de fluxos, processos, lógicas e racionalidades. É questão de sobrevivência empresarial. Ao menos enquanto forem os seres humanos as cabeças, e os corações, das empresas.