Preocupada, aquela jovem professora iniciante vem a mim e pergunta o que fazer com o choro desconsolado de seu pequeno, pequeníssimo aluno que, no auge de seus 2 anos de idade, parece ter descoberto o sentido do verso daquela canção “meu mundo caiu…”. Sua forma tímida de se dirigir a mim veio através de uma frase que há muito não ouvia “me dá uma luz?”. Do “meu sim, claro, se for possível”, seguiu seu relato cujo início tinha a frase “não sei o que fazer…”. Este recorte me serve para alinhavar algumas questões sobre: 1- O que faz um psicanalista na escola através do pedido a ele endereçado quando ele toma parte de um cotidiano escolar. Parece que as situações “disruptivas” – aquelas em que há emergência de fenômenos não conhecidos pelo educador – instiga o professor a se perguntar “o que fazer?”, abrindo o flanco para o aparecimento de angústias (sinais de perigo) que não raro o leva a percorrer um caminho subjetivo desconhecido (que pode ser perigoso), derivando daí duas posições básicas, ambas com variações de graus: abrir-se para o fenômeno ou defender-se dele.
Pelo lado da criança, cujo perigo pode ser o encontro (ou reencontro) com o traumático, tem-se na ocasião a oportunidade de que o ambiente (ou o professor do início desta historieta) abra-se para sua (da criança) experiência, configurando um aporte ambiental quiçá suficientemente bom ou, de outro lado, uma resposta defensiva que atualizará o trauma (enquanto resposta ambiental deficiente). Decorre que à criança lhe restaria, primeiramente, defender-se do que trouxe a angústia e, eventualmente, da resposta ambiental. 2- O que pode um psicanalista em uma na escola? Talvez eu devesse escrever um artigo a respeito disso.
Por hoje, fico por aqui. Mas, para que o leitor não pense que a história da professora ficou em suspenso, eu conto como se seguiu: ao entender que “me dá uma luz?” era uma pergunta que indicava uma ausência na capacidade de atribuir algum sentido àquela experiência vivida com a criança (cujo choro era interminável, irritabilidade constante, eventos de “agressão” ao colega), perguntei: “isso é inédito, nunca ocorreu antes com esta criança?”. À sua resposta negativa seguiu-se uma conversa entre nós que me permitiu perceber o retorno do sentido e a uma pacificação na alma daquela professora: “na verdade, tudo começou depois que o fulano (um coleguinha de mesma idade) ingressou na sala vindo de outra escola”. “Bom, você já sentiu ciúmes?” “Sim, será?”. “Talvez, mas me parece uma boa hipótese, não acha?”. “Eu sei o que é sentir ciúmes”. Então, e se você tentasse assegurá-lo de que o lugar dele não está ameaçado por este novo aluno?”. “Como?”.
Estabelecida uma empatia, criamos juntos um cenário que respondesse à necessidade de asseguramento que aquele aluno parecia pedir. O resultado foi o gradual (e rápido) desaparecimento destas manifestações de choro, de irritabilidade e das manifestações “agressivas”. A professora sentiu que houve uma luz, se sentiu capaz novamente. Eu percebi um encontro autêntico entre uma professora e seu aluno.